Kim Barnes foi eleita em 2008 pela revista Leadership Excellence como uma das 100 maiores cabeças pensantes no ramo da liderança. A presidente da Barnes & Conti Associates, empresa americana que trabalha com aprendizagem e desenvolvimento organizacional, esteve em Porto Alegre recentemente e concedeu uma ótima entrevista para o Jornal do Comércio sobre o papel dos líderes no incentivo à inovação dentro das empresas. A matéria é assinada por Patricia Knebel.
JC Empresas & Negócios – O processo inovativo permite falhas ou as empresas devem partir para a política do risco zero?
Kim Barnes – A maioria das inovações, por sua própria natureza, só será bem-sucedida após uma série de falhas. Uma cultura que estimula e sustenta a inovação é, entre outras coisas, aquela que incentiva as pessoas a assumirem os riscos de forma inteligente. Uma organização com essa perspectiva busca a experimentação e apoia os profissionais que desafiam o senso comum. Dentro de uma visão de longo prazo, aceita o fracasso como algo que faz parte da caminhada para o sucesso nos projetos inovadores. Nesse casos, o status quo não é considerado bom o suficiente e as pessoas em todos os níveis da organização são encorajadas a desafiar o senso comum e apresentar novas ideias. Os líderes das empresas que possuem a cultura da inovação devem aprender a tolerar a ambiguidade e incentivar as pessoas a desafiarem o senso comum. Eles buscam novas ideias ao invés de adotarem a primeira que ouvem. A inovação deve ser entendidade como uma jornada.
Empresas & Negócios – Que papel desempenham os líderes no incentivo a criação de uma postura corporativa voltada para a busca por ideias diferenciadas?
Kim – Os líderes em todos os níveis devem incentivar e apoiar a inovação se mostrando abertos e interessados na constribuição dos seus profissionais. Quando as boas ideias surgem, precisam ser alimentadas e cultivadas, como se fossem pequenas mudas em um jardim. É importante que os líderes demonstrem interesse e estimulem a troca aberta de informações, evitando julgar e rejeitar ideias prematuramente.
Empresas & Negócios – Como atrair e reter os talentos que possam ser aliados nessa jornada?
Kim – Atrair e reter um talento com perfil de apoiar e dar início a um processo voltado para a inovação dentro da corporação é um papel fundamental para os profissionais de recursos humanos. Se a empresa já possui uma estratégia de inovação, isso pode ser usado para direcionar os critérios adotados na contratação das pessoas certas. Por outro lado, para manter as pessoas de talento comprometidas, elas precisam perceber que existem oportunidades reais de aprendizagem e que elas poderão usar suas habilidades criativas no dia a dia. As pessoas querem fazer parte das organizações que lhe dão liberdade e recursos para inovar.
Empresas & Negócios – Onde podemos encontrar os mais bem-sucedidos exemplos de inovação no mundo?
Kim – Muitas pessoas concordam que lugares como o Vale do Silício, na Califórnia (EUA) ou áreas similares no mundo são especialmente designadas para promover a inovação, pelo menos quando pensamos em inovações tecnológicas. Eles estão tipicamente localizados próximos a universidades e tem desenvolvido um ecossistema de negócios em que a inovação aberta tem lugar garantido para se desenvolver. Eu acredito, entretanto, que algumas das mais interessantes inovações chegam através dos jovens empreendedores sociais, muitos delas sendo trabalhadas em mercados emergentes ou no mundo em desenvolvimento. Eles cada vez mais apresentam ideias de negócios sustentáveis economicamente e que também promovam a saúde, a aprendizagem e o desenvolvimento em suas regiões.
Empresas & Negócios – Que papel o Brasil pode desempenhar nesse cenário global?
Kim – Como um dos principais mercados emergentes, o Brasil tem um papel importante a desempenhar na estratégia de inovação mundial. O País tem uma força de trabalho altamente qualificada e pode usar os seus talentos para desenvolver novas ideias que possam ser testadas em seu próprio território, nas regiões em desenvolvimento, e depois exportada para outras partes do mundo. Quando as regiões não são tão desenvolvidos, há uma grande oportunidade porque não existe o custo do legado. Dá para partir imediatamente para novas maneiras de viver e trabalhar. Uma situação na qual vimos isso foi a rápida adoção dos telefones celulares na Índia. Nas áreas rurais, esses equipamentos estão sendo utilizados de forma muito interessante e inovadora. As mães indianas que são analfabetas podem receber diariamente mensagens virtuais que mostram como pode cuidar melhor dos seus filhos, em cada fase de desenvolvimento.
Empresas & Negócios – Qual a principal característica de um líder inovador?
Kim – Talvez a mais importante característica de um líder inovador seja a humildade. Ele sabe que outras pessoas na organização terão mais e melhores ideias que apenas uma pessoa. A segunda qualidade importante é a curiosidade. Ao invés de achar que está sempre certo, o líder inovador é movido pela curiosidade. Ele questiona constantemente questões como: De que forma podemos resolver este problema? Como podemos melhorar este produto? Como chegar a um novo mercado? Líderes inovadores têm o ímpeto de aprender a todo momento. Na sequência destas três características vem a capacidade de ouvir, de conseguir extrair uma nova ideia e de mudar os rumos quando necessário para permitir um alinhamento com a estratégia organizacional.
Empresas & Negócios – Quais são as técnicas que devem ser usadas para inspirar as empresas a buscarem a diferenciação?
Kim – Eu acredito que as empresas com líderes que têm fome de aprender têm uma grande vantagem. Há muitos livros, cursos e seminários disponíveis hoje em dia para que essas pessoas possam ampliar seus conhecimentos. Visitar e observar outras organizações é outra forma poderosa para se aprender novas estratégias e abordagens.
Empresas & Negócios – De que forma a criação de sistemas inovativos pode levar ao desenvolvimento das empresas?
Kim – Eu me sinto inclinada a reverter essa pergunta e questionar: Qual é o destino de uma empresa que se recusa a inovar? Claramente, em uma economia global, a empresa que decidir não inovar pode acabar perdendo o seu negócio. Em muitos casos, a inovação não é mais opcional.
Empresas & Negócios – Onde estão as oportunidades do futuro para a área de inovação?
Kim – Eu acredito em uma crescente necessidade de inovação em tecnologias verdes. É a inovação reversa, quando tecnologias, produtos e serviços de baixo custo são projetados para as nações em desenvolvimento e adaptadas para as economias mais avançadas está se tornando uma realidade.